Sobre Honestidade

Felipe Camargo
2 min readSep 9, 2020

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Ser honesto é estar exposto. É oferecer-se ao bom senso que os outros podem simplesmente não ter e pagar pela eventual falta de maturidade e embasamento das críticas de terceiros. Nada exige maior coragem do que nos tornarmos quem realmente somos.

Ser honesto é resignação. Reconhecer que estamos constantemente descobrindo quem somos: nossas aptidões, limitações, paixões e expectativas. Ter a capacidade de perceber, em outras pessoas, aquilo que não temos em nós. Não faz sentido tentar descrever um mundo através de um aparelho mental que funciona sob condições das quais não temos ao menos algum conhecimento sobre seu funcionamento.

Ser honesto é duro. Encarar a realidade requer um constante enfrentamento das nossas vaidades, vergonhas ou fantasias. Entender que nem sempre o que mais valorizamos em nós é aquilo que as pessoas que prezamos realmente precisam. Aceitar que algumas angústias só apresentam algum sentido com o tempo, e que poucos fenômenos poderiam acelerar este processo.

Ser honesto é ser generoso. Não permitir que propostas tentadoras de carinho movidas por impulsos humanos pueris, como culpa ou vergonha, que refletem muito pouco a vontade de um agrado genuíno e que não cabe retribuição, sejam perpetuadas ao longo do tempo.

E por quê alguém estaria disposto a todo esse desgaste somente pela honestidade?

Porque ela é necessária para que possamos fazer sentido do convívio humano, saber como outras pessoas pensam nos ajuda a desenvolver nossa própria forma de pensar, de atingir um consenso onde ninguém precisa pagar em silêncio por uma culpa equivocada mas incabivelmente dolorosa. Para que seja possível sentir, nem que por alguns breves intervalos da vida, que nossas escolhas são nossas, que aquilo que nos tornamos foi de forma meritosa, nunca por um motivo malicioso que governa nossas ações através das influências escusas de terceiros ou de um suposto arranjo social selvagem que nos permite decidir apenas entre matar ou morrer.

Não vejo risco em dizer que muitas vezes é mais fácil nos contentarmos em saber que somos dignos de amor do que sendo amados de fato

Escrito em 28/10/2016

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Felipe Camargo
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Written by Felipe Camargo

Applied macroeconomist. I look for simple model solutions to real world problems. I also write about finance and casual philosophy.

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