Sobre criação de conteúdo para redes sociais
Para quem tem alguma experiência produzindo e divulgando conteúdo técnico em redes sociais, tenho certeza que esse pequeno “desabafo” vai soar familiar. Para quem está começando ou pretende começar no futuro, espero que sirva de aviso construtivo.
Essa é a minha experiência:
Minha maior motivação para dividir o que faço estudando em casa é a de continuar aprendendo e crescendo, não só como economista, mas também como pessoa. O processo importa muito mais que o resultado.
Ao longo desse processo, percebi que nem sempre avancei a cada decisão que tomei ou material que produzi. Já escrevi e mais tarde deletei sem salvar muito material que julguei equivocado (sou curador do passado). Porém, olhando para o início, para as análises que produzi lá trás e comparando-as com as de hoje em dia, vejo um claro avanço do qual me orgulho bastante. O processo importa muito mais que o resultado.
Sempre tive certo apreço por construir alguma credibilidade, mesmo assim, muitas projeções que fiz e errei eu costumo deixar em registro, porque penso que elas deixam lições. O cenário muda conforme novas surpresas surgem e é muito importante manter um histórico daquilo que fundamentou a visão do passado. O fundamental não é focar no erro de projeção, mas permitir que a atualização da projeção seja sempre consistente e rigorosa. O processo importa muito mais que o resultado.
Isso, dentro tantas outras coisas, é algo que a internet poucas vezes entende. Posso contar nos dedos os colegas que consomem o conteúdo que produzo e de fato entendem que, quando uma pessoa diz em março/22 que a inflação vai ser 6% no final de 2022, ela parte de um conjunto de informações bastante diferente daquele que ela partiu ao fazer uma projeção de 4.5% para o mesmo ano, mas em janeiro/22. Faz parte do trabalho revisitar os números. O processo importa muito mais que o resultado.
Para além do assunto de projeção, também é importante alertar aos novos empreiteiros do conteúdo online sobre a audiência. A audiência não vai necessariamente te entender. Apenas uma fatia dos que clicam em seus links fará a leitura atenta daquilo que você escreveu. Dos que lêem, apenas outra fatia consegue entender realmente. É preciso construir uma ponte com a audiência, ela se acostumar com a sua linguagem e você adaptar essa linguagem para chegar até o seu público alvo. Isso dificilmente vai acontecer de primeira. Comece pequeno, simples, se for pular para o complexo, somente o faça ao se sentir confiante de que é capaz de simplificar o que está sendo feito. Você vai aprender ainda mais com este esforço de tornar-se didático. O processo importa muito mais que o resultado.
Nutrir uma cultura de compartilhamento de conteúdo seja talvez crucial. Ninguém está fazendo nada por acaso, mas algumas atitudes são tomadas de maneira menos refletida que outras. Não é respeitoso, por exemplo, responder ao conteúdo detalhado de uma pessoa que levou alguns dias pensando naquilo que produziu com críticas/dúvidas rasas. Mas o que são “críticas/dúvidas rasas”, não é mesmo? O essencial me parece ser entender que existe uma certa assimetria entre quem produz conteúdo e quem aparece para tirar dúvidas e fazer críticas. Essa assimetria dificulta a comunicação entre as partes, porque muito antes de saber que foi apreciado por aquilo que produziu, o criador de conteúdo já é apresentado como em débito com esse consumidor curioso/crítico. Não entendam esse ponto mal. Criticar e perguntar é imprescindível ao processo de crescimento. Eu aprendi mais me esforçando para responder dúvidas do que escrevendo por conta própria, e muitas dúvidas acabaram por inspirar conteúdo produzido eventualmente. Mas sempre é difícil diferenciar quem está ali para construir ou quem não liga para o que você faz. Mesmo assim, o processo importa muito mais que o resultado.
E para encerrar posso dizer com muita tranquilidade hoje que, mesmo que todo o material que eu tenha escrito um dia fosse apagado, que as redes sociais caiam em desuso e que os registros feitos sejam completamente inacessíveis, devo muito daquilo que sou hoje ao esforço que coloquei no material que produzi. Se tudo acabasse, eu não perderia quem eu me tornei. Olhando para trás, eu jamais teria sido capaz de prever isto. Hoje, em retrospecto, o processo importou muito mais que o resultado.
Sou muito grato aos colegas que conheci através deste pequeno passatempo. Gente do bem que sabe como é difícil encontrar algo pelo que vale a pena viver. Espero continuar desfrutando disso. Obrigado a vocês e bons estudos.