Macroeconomia em tempo discreto — Analisando perspectivas de inflacao a partir da Curva de Phillips brasileira
Neste post mais breve e direto, pretendo explorar o atual debate a respeito do risco inflacionário brasileiro utilizando alguns conceitos bastante conhecidos na macroeconomia: a lei de Okun e a Curva de Phillips.
A lei de Okun é a parte mais intuitiva deste texto. Ela basicamente ilustra a ideia de que o PIB de uma economia e o seu nível de emprego caminham juntos. Um aumento no emprego vai gerar aumento da renda futura, consequentemente na demanda da economia e logo, no PIB, assim como um aumento no PIB está associado a um aumento na margem das empresas, que vao poder contratar mais funcionários para aumentar seu nível de lucro, e logo, no emprego. O relacionamento é endógeno, sua magnitude pode variar de país para país, mas sempre poderá ser explicitado pelos dados.
Matematicamente, a lei de Okun pode ser observada e expressa por uma relacao linear aproximada simples:
Podemos notar pela relacao acima que, no caso brasileiro, um aumento de 1% no hiato do produto, isso é, a conomia efetivamente crescer 1% acima daquilo que ela é capaz de crescer de forma sustentável em determinado período, está associado a uma queda de 0.3 ponto percentual na taxa de desemprego.
Após validarmos a lei de Okun, podemos prosseguir para discutir a Curva de Phillips, a associacao negativa entre a taxa de desemprego e a inflacao. Essa associacao negativa pode ser compreendida a partir de duas ideias simples: a de que desemprego reduz a renda e portanto o consumo por bens e servicos, e a de que salários e precos sao rígidos no curto prazo.
Essa curva pode ser mais observada nos dados brasileiros a partir da inflacao de servicos e da taxa de desemprego:
Podemos interpretar o gráfico acima da seguinte forma. Primeiro, temos a curva negativamente inclinada estimada a partir das duas variáveis, que sao a taxa de desemprego de nove meses atrás e o desvio da inflacao de servicos em relacao a meta do banco central. Essa relacao de curto prazo explica que um aumento de 1% na taxa de desemprego estará associado a uma queda de 0.86 ponto percentual no desvio da inflacao de servicos em relacao a meta nos nove meses subsequentes. Segundo, a reta vertical (u*), denota aquilo que conhecemos por desemprego natural, em que o nível de desemprego manterá a inflacao de servicos constante no centro da meta de inflacao (assumindo y=0, temos que x=10.28%/0.8583≅12%).
Conhecendo essas relacoes, podemos discutir um pouco sobre o que deve acontecer com a inflacao de servicos nos próximos 9 meses, uma vez que já observamos a taxa de desemprego mais recente. Com isso em mente, sabendo que a taxa de desemprego em agosto de 2020 de acordo com o IBGE foi de 14.4%, ou seja, 0.7 ponto percentual acima do mes anterior após o ajuste sazonal, devemos esperar que o desvio da inflacao de servicos em relacao a meta de inflacao do banco central 9 meses após agosto de 2020 (pontanto maio de 2021) seja 0.61 ponto percentual mais baixo do que o anteriormente esperado caso o desemprego tivesse ficado constante.
Com base nessas relacoes simples e brevemente visitando e analisando os dados, somos capazes de fazer inferencias muito úteis a respeito da conducao da política economica brasileira. Por exemplo entender porque o banco central segue bastante tranquilo com uma taxa Selic em 2% mesmo com a breve aceleracao da inflacao no curto prazo.
Por hoje ficamos por aqui. Caso haja interesse poderei disponibilizar no futuro, aqui mesmo neste texto, um apendice explicando o passo-a-passo e a teoria macroeconomica por trás da construcao destas estimativas simples.